O arrebatamento da Igreja: O que a bíblia realmente diz? (Pré, Meso ou Pós-Tribulacionista?)

Introdução: A esperança do encontro celestial

Entre as doutrinas mais debatidas e, ao mesmo tempo, mais esperançosas da escatologia bíblica, o arrebatamento da Igreja ocupa um lugar de destaque. Para muitos cristãos, a ideia de um encontro repentino e glorioso com o Senhor nos ares é a “bendita esperança” que sustenta a fé em meio às tribulações da vida. No entanto, a compreensão desse evento – sua natureza, seu timing e suas implicações – tem gerado diversas interpretações ao longo da história da Igreja, levando a discussões que, por vezes, podem obscurecer a essência da promessa bíblica.

A palavra “arrebatamento” não aparece diretamente na Bíblia em português, mas é uma tradução do termo latino rapturo, que por sua vez deriva do grego harpazo (ἁρπάζω), que significa “arrebatar“, “tomar à força“, “agarrar“, “tirar rapidamente“. Esse termo é encontrado em 1 Tessalonicenses 4:17, onde Paulo descreve os crentes sendo “arrebatados” para encontrar o Senhor nos ares. A doutrina, portanto, não se baseia em uma única palavra, mas na descrição de um evento futuro e sobrenatural que transformará a realidade dos crentes.

O arrebatamento é a promessa de que, em um momento determinado por Deus, os crentes que estiverem vivos serão transformados instantaneamente, e, juntamente com os mortos em Cristo que ressuscitarão primeiro, serão levados para encontrar o Senhor Jesus Cristo. Este evento marca o fim da peregrinação terrena da Igreja e o início de sua união eterna com Cristo. É um evento de grande alegria e celebração para os redimidos, mas também um lembrete da soberania de Deus sobre a história e o tempo.

Para o público cristão, especialmente evangélicos e pentecostais, a doutrina do arrebatamento é de suma importância. Ela não apenas oferece consolo e esperança, mas também serve como um poderoso incentivo à santidade, à vigilância e à urgência evangelística. A expectativa de que Cristo pode voltar a qualquer momento motiva os crentes a viverem de forma digna do Evangelho, com os olhos fixos nas coisas celestiais e o coração ardendo pelo cumprimento das promessas divinas.

No entanto, a beleza e a simplicidade da promessa do arrebatamento são frequentemente ofuscadas pelas complexas discussões sobre seu timing em relação à Grande Tribulação. As principais visões – pré-tribulacionista, meso-tribulacionista e pós-tribulacionista – representam tentativas sinceras de harmonizar as diversas passagens bíblicas que tratam dos eventos finais. Cada uma dessas perspectivas possui argumentos teológicos e exegéticos válidos, e é fundamental que o estudante da Bíblia as examine com mente aberta e coração submisso à Palavra de Deus.

Este artigo tem como propósito desvendar a doutrina do arrebatamento da Igreja, explorando seus fundamentos bíblicos, as diferentes visões interpretativas e suas implicações práticas para a vida do crente. Nosso objetivo é fornecer uma compreensão clara e teologicamente sólida, que vá além das especulações e foque naquilo que é essencial: a certeza da volta de Cristo e a esperança do nosso encontro com Ele. Que este estudo fortaleça sua fé e o inspire a viver com a expectativa alegre do dia em que o Senhor virá para buscar Sua Igreja.

1. Definição e fundamentos bíblicos do arrebatamento

Para compreendermos as diferentes visões sobre o arrebatamento, é crucial primeiro estabelecer uma definição clara e seus fundamentos nas Escrituras. Como mencionado na introdução, o termo “arrebatamento” deriva do grego harpazo (ἁρπάζω), que denota uma ação rápida, súbita e poderosa de “tomar”, “agarrar” ou “arrebatar”. Este verbo é utilizado em diversas passagens do Novo Testamento para descrever ações como a de Filipe sendo arrebatado pelo Espírito (Atos 8:39), Paulo sendo arrebatado ao terceiro céu (2 Coríntios 12:2,4), ou o menino sendo arrebatado para junto de Deus em Apocalipse 12:5. Em todos esses contextos, a ideia de uma remoção súbita e sobrenatural está presente.

No contexto escatológico, o arrebatamento refere-se especificamente ao evento em que Jesus Cristo retornará para levar consigo os crentes, tanto os que estiverem vivos quanto os que já morreram. A principal passagem bíblica que descreve este evento é encontrada na Primeira Epístola de Paulo aos Tessalonicenses:

“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.” (1 Tessalonicenses 4:16-18)

Analisemos os elementos chave desta passagem:

•A Descida do Senhor: Jesus Cristo descerá do céu. Não será um retorno secreto ou invisível, mas acompanhado de “alarido“, “voz de arcanjo” e “trombeta de Deus“. Isso sugere um evento audível e de grande magnitude, embora não necessariamente visível a todos na Terra no mesmo sentido de Sua segunda vinda para reinar.

•A Ressurreição dos Mortos em Cristo: Antes que os vivos sejam transformados, os crentes que já morreram ressuscitarão. Esta é a “primeira ressurreição” mencionada em Apocalipse 20:5-6, que é uma ressurreição para a vida eterna, distinta da ressurreição dos ímpios para o juízo.

•A Transformação dos Vivos: Os crentes que estiverem vivos no momento do arrebatamento não experimentarão a morte, mas serão instantaneamente transformados. Paulo detalha essa transformação em 1 Coríntios 15:51-52:

Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ao soar da última trombeta. Porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.

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Essa transformação implica que nossos corpos mortais e corruptíveis serão revestidos de imortalidade e incorruptibilidade, tornando-nos aptos para a eternidade e para a presença de Deus. É um corpo glorificado, semelhante ao corpo ressurreto de Cristo (Filipenses 3:21).

•O Encontro nos Ares: Tanto os ressuscitados quanto os transformados serão “arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares”. Este é o ponto central do evento: um encontro com Cristo fora da esfera terrestre, antes de Ele pisar na Terra para estabelecer Seu reino.

•Estar Sempre com o Senhor: O propósito final do arrebatamento é a união eterna e ininterrupta dos crentes com Cristo. Não é um evento temporário, mas o início de uma comunhão perfeita e sem fim.

Outras passagens que corroboram a doutrina do arrebatamento incluem:

•João 14:1-3: Jesus promete aos Seus discípulos que voltaria para levá-los para Si, para que onde Ele estivesse, eles também estivessem. Embora não use o termo “arrebatamento”, a ideia de levar os crentes para um lugar preparado por Ele é consistente com a doutrina.

•Filipenses 3:20-21: Paulo afirma que nossa cidadania está nos céus, de onde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso corpo humilhado para ser semelhante ao Seu corpo glorioso.

•Tito 2:13: A vinda de Cristo é chamada de “bendita esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo”.

É importante distinguir o arrebatamento da segunda vinda de Cristo para reinar. Embora sejam eventos relacionados e parte do mesmo plano escatológico, muitos teólogos os veem como fases distintas. No arrebatamento, Cristo vem pelos Seus santos, encontrando-os nos ares. Na segunda vinda, Cristo vem com Seus santos, pisando na Terra para estabelecer Seu reino e julgar as nações. Essa distinção é crucial para as diferentes visões sobre o timing do arrebatamento em relação à Grande Tribulação.

O arrebatamento, portanto, é a promessa de um resgate divino, um evento sobrenatural que marcará o fim da era da Igreja na Terra e o início de sua glorificação com Cristo. É um evento que inspira esperança, motiva à santidade e nos lembra da fidelidade de Deus em cumprir cada uma de Suas promessas. Com essa base sólida, podemos agora explorar as diferentes interpretações sobre quando esse glorioso evento ocorrerá.

2. As principais visões sobre a hora do arrebatamento

As passagens bíblicas que descrevem o arrebatamento e a segunda vinda de Cristo, juntamente com as profecias sobre a Grande Tribulação, deram origem a diferentes interpretações sobre a cronologia desses eventos. As três visões mais proeminentes são o Pré-Tribulacionismo, o Meso-Tribulacionismo e o Pós-Tribulacionismo. Cada uma delas busca harmonizar as Escrituras e oferecer uma compreensão coerente do plano escatológico de Deus.

2.1. Pré-Tribulacionismo: O arrebatamento antes da grande tribulação

O Pré-Tribulacionismo é a visão de que o arrebatamento da Igreja ocorrerá antes do início da Grande Tribulação. Esta é a perspectiva mais amplamente difundida entre os evangélicos e pentecostais, especialmente nos Estados Unidos e no Brasil. Os defensores desta visão argumentam que a Igreja, como a noiva de Cristo, não passará pelo período de juízo divino que é a Grande Tribulação.

Argumentos Principais do Pré-Tribulacionismo:

1.A Natureza da Grande Tribulação: A Grande Tribulação é vista como um período de juízo divino derramado sobre o mundo incrédulo e, especificamente, sobre Israel, para purificá-lo e prepará-lo para o retorno do Messias (Jeremias 30:7; Daniel 9:24-27). Argumenta-se que a Igreja, já redimida e justificada pelo sangue de Cristo, não está destinada à ira de Deus (1 Tessalonicenses 1:10; 5:9; Romanos 5:9). A promessa de livramento da “hora da provação que há de vir sobre todo o mundo” (Apocalipse 3:10) é interpretada como uma promessa de remoção da Igreja antes da Tribulação.

2.A Imminência do Arrebatamento: O Pré-Tribulacionismo enfatiza a iminência do arrebatamento, ou seja, que ele pode acontecer a qualquer momento, sem sinais precedentes específicos. Essa doutrina motiva os crentes à vigilância e à santidade. Se a Igreja tivesse que passar pela Tribulação, haveria sinais claros que precederiam o arrebatamento, o que, para os pré-tribulacionistas, contradiz a ideia de iminência (Mateus 24:36, 42-44).

3.A Distinção entre Israel e a Igreja: Esta visão é frequentemente associada ao Dispensacionalismo, que faz uma distinção teológica e profética entre Israel e a Igreja. A Grande Tribulação é vista como a “semana septuagésima” de Daniel 9:24-27, um período de sete anos destinado a Israel para o cumprimento de profecias específicas. A Igreja, sendo um “parêntese” no plano de Deus para Israel, seria removida antes que esse período de juízo sobre Israel e as nações gentias começasse.

4.O Propósito do Arrebatamento: O arrebatamento é visto como o evento que completa a era da Igreja, levando os crentes para a casa do Pai, conforme a promessa de Jesus em João 14:1-3. A Igreja não tem um papel profético a cumprir durante a Grande Tribulação, que é um tempo de juízo e preparação para o reino milenar de Cristo na Terra.

5.O Espírito Santo e o Restritor: Alguns pré-tribulacionistas interpretam 2 Tessalonicenses 2:6-7, que fala sobre “aquele que o detém” (o Anticristo), como sendo o Espírito Santo operando através da Igreja. A remoção da Igreja no arrebatamento implicaria na remoção do Espírito Santo como “restritor“, permitindo que o Anticristo se manifeste plenamente durante a Tribulação.

Críticas ao Pré-Tribulacionismo:

•Falta de Suporte Explícito: Críticos argumentam que a Bíblia não apresenta explicitamente dois retornos de Cristo (um para o arrebatamento e outro para a segunda vinda) ou uma distinção tão rígida entre Israel e a Igreja que justifique a remoção da Igreja antes da Tribulação.

•A Palavra “Igreja” em Apocalipse: A ausência da palavra “Igreja” em Apocalipse 4-18 é frequentemente citada como evidência pelos pré-tribulacionistas, mas os críticos apontam que a Igreja está implicitamente presente através dos 24 anciãos ou dos santos que são perseguidos.

•Consolo ou Fuga? Alguns argumentam que a promessa de livramento da ira não significa necessariamente livramento da tribulação, e que a visão pode levar a uma falta de preparo para a perseguição que os cristãos podem enfrentar.

2.2. Meso-Tribulacionismo: O arrebatamento no meio da grande tribulação

O Meso-Tribulacionismo (ou Mid-Tribulacionismo) é a visão de que o arrebatamento da Igreja ocorrerá no meio da Grande Tribulação, ou seja, após os primeiros três anos e meio (42 meses ou 1.260 dias) e antes da parte mais intensa e severa da Tribulação, conhecida como a “Grande Tribulação” propriamente dita ou a “ira de Deus”.

Argumentos Principais do Meso-Tribulacionismo:

1.A Trombeta Final: Os meso-tribulacionistas baseiam-se em 1 Coríntios 15:52, que menciona o arrebatamento ocorrendo “ao soar da última trombeta“. Eles conectam essa “última trombeta” com a sétima trombeta de Apocalipse 11:15, que marca o início da ira de Deus e o anúncio do reino de Cristo. Se o arrebatamento ocorre na “última trombeta“, e a sétima trombeta de Apocalipse é a última, então o arrebatamento deve ocorrer no meio da Tribulação.

2.A Duração da Tribulação: A Grande Tribulação é frequentemente dividida em duas metades de três anos e meio. A primeira metade seria um período de tribulação geral, mas a segunda metade seria a “Grande Tribulação” propriamente dita, caracterizada pela ira de Deus. Os meso-tribulacionistas acreditam que a Igreja passará pela primeira metade da Tribulação, mas será removida antes da ira divina.

3.O Restritor: Assim como os pré-tribulacionistas, os meso-tribulacionistas também interpretam o “restritor” de 2 Tessalonicenses 2:6-7 como o Espírito Santo operando através da Igreja. No entanto, eles acreditam que o restritor será removido no meio da Tribulação, permitindo a plena manifestação do Anticristo e a ira de Deus.

4.O Encontro nos Ares: A ideia de encontrar o Senhor nos ares (1 Tessalonicenses 4:17) é vista como um evento que precede o retorno de Cristo à Terra, mas que ocorre em um ponto específico da Tribulação, antes que a ira de Deus seja derramada.

Críticas ao Meso-Tribulacionismo:

•Identificação da “Última Trombeta“: Críticos argumentam que a “última trombeta” de 1 Coríntios 15:52 não é necessariamente a sétima trombeta de Apocalipse, pois existem diferentes “trombetas” na Bíblia com propósitos distintos. A trombeta de 1 Coríntios pode ser a última trombeta da era da Igreja, e não a última trombeta profética de todos os tempos.

•Divisão da Tribulação: A divisão da Tribulação em duas metades distintas, com a Igreja sendo removida antes da segunda metade, é vista por alguns como uma interpretação que carece de clareza bíblica explícita.

2.3. Pós-Tribulacionismo: O Arrebatamento após a grande tribulação

O Pós-Tribulacionismo é a visão de que o arrebatamento da Igreja ocorrerá após a Grande Tribulação, imediatamente antes da segunda vinda de Cristo para estabelecer Seu reino milenar. Os defensores desta visão acreditam que a Igreja passará por todo o período da Grande Tribulação, mas será preservada da ira de Deus durante esse tempo.

Argumentos Principais do Pós-Tribulacionismo:

1.A Unicidade da Segunda Vinda: Os pós-tribulacionistas argumentam que a Bíblia descreve um único evento de retorno de Cristo, que inclui tanto o arrebatamento quanto a segunda vinda para reinar. Eles veem 1 Tessalonicenses 4:16-17 e Mateus 24:29-31 como descrições do mesmo evento, onde os crentes são reunidos imediatamente após a Tribulação e, em seguida, Cristo retorna à Terra.

2.A Igreja e a Tribulação: Eles afirmam que a Igreja sempre experimentou tribulação e perseguição ao longo da história, e que a Grande Tribulação é a culminação dessa experiência. A promessa de livramento da ira de Deus (1 Tessalonicenses 1:10; 5:9) é interpretada como livramento da ira eterna, e não necessariamente da tribulação terrena. Eles veem a Igreja como tendo um papel de testemunho e perseverança durante a Tribulação.

3.A Linguagem de Mateus 24: Passagens como Mateus 24:29-31, que descrevem a reunião dos eleitos “logo depois da tribulação daqueles dias”, são interpretadas como evidência de que o arrebatamento ocorre após a Tribulação.

4.A Perseverança dos Santos: O Pós-Tribulacionismo enfatiza a doutrina da perseverança dos santos e a fidelidade de Deus em preservar Seu povo através das provações. A Igreja não é removida da Tribulação, mas é capacitada a suportá-la e a glorificar a Deus em meio a ela.

5.A Ausência de Distinção entre Israel e a Igreja: Muitos pós-tribulacionistas não fazem uma distinção rígida entre Israel e a Igreja, vendo a Igreja como o Israel espiritual e herdeira das promessas feitas a Israel.

Críticas ao Pós-Tribulacionismo:

•A Promessa de Livramento da Ira: Críticos argumentam que a interpretação de “ira” como ira eterna não é suficiente, e que a Bíblia promete livramento da ira vindoura, que inclui a Grande Tribulação.

•A Natureza do Arrebatamento: A ideia de um encontro nos ares (1 Tessalonicenses 4:17) parece ser um evento distinto do retorno de Cristo à Terra, e a fusão dos dois eventos pode não fazer justiça à linguagem bíblica.

2.4. Outras variações e considerações

Além das três principais visões, existem outras variações, como o Pré-Ira Tribulacionismo, que sugere que o arrebatamento ocorre antes do derramamento da ira de Deus, mas não necessariamente antes de toda a Tribulação, focando na distinção entre a tribulação geral e a ira divina. Há também o Parcialismo, que defende que apenas os crentes vigilantes e preparados serão arrebatados, enquanto os demais passarão pela Tribulação.

É fundamental reconhecer que todas essas visões são tentativas sinceras de interpretar a Palavra de Deus. A Bíblia não oferece uma cronologia explícita e linear de todos os eventos finais, o que permite diferentes compreensões. O mais importante é que, independentemente da visão adotada, a doutrina do arrebatamento deve nos levar à esperança, à vigilância e à santidade, e não à divisão ou à especulação ociosa. A certeza da volta de Cristo e a promessa de estarmos para sempre com Ele são a essência da nossa fé e a motivação para nossa vida cristã.

3. Implicações práticas da doutrina do arrebatamento para a vida do cristão

Independentemente da visão escatológica adotada sobre o timing exato do arrebatamento, a doutrina em si carrega implicações práticas profundas e transformadoras para a vida do crente. Longe de ser uma mera especulação teológica, a esperança do arrebatamento deve moldar nossa fé, nossas prioridades e nossa conduta diária. Ela nos chama a uma vida de vigilância, santidade, consolo e urgência evangelística.

3.1. Consolo e esperança inabalável

Paulo conclui sua exposição sobre o arrebatamento em 1 Tessalonicenses 4:18 com a exortação: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.” Em um mundo marcado pela dor, pela perda e pela incerteza, a promessa do arrebatamento oferece um consolo incomparável. Para aqueles que perderam entes queridos em Cristo, a certeza de que eles ressuscitarão primeiro e que nos encontraremos com eles e com o Senhor nos ares é uma fonte de profunda esperança. A morte não tem a última palavra para o crente; a ressurreição e a vida eterna com Cristo são a nossa realidade futura.

Essa esperança nos capacita a enfrentar as adversidades da vida com resiliência. Sabemos que nossa cidadania está nos céus (Filipenses 3:20) e que nossa verdadeira casa não é aqui. A perspectiva do arrebatamento nos ajuda a relativizar as tribulações presentes, pois sabemos que elas são temporárias e que uma glória incomparável nos aguarda. É a âncora da alma, firme e segura, que nos mantém estáveis em meio às tempestades.

3.2. Vigilância e prontidão espiritual

A doutrina do arrebatamento, especialmente a ênfase na sua iminência (para os pré-tribulacionistas) ou na sua certeza (para todas as visões), nos convoca à vigilância. Jesus advertiu repetidamente Seus discípulos a estarem preparados, pois Ele viria em um momento inesperado, como um ladrão na noite (Mateus 24:42-44; Lucas 12:40). Essa vigilância não é um estado de ansiedade ou medo, mas de prontidão espiritual e de vida em constante comunhão com Deus.

Estar vigilante significa viver uma vida de oração contínua, de estudo da Palavra, de obediência aos mandamentos de Cristo e de serviço ao próximo. Significa manter as “lâmpadas acesas” (Mateus 25:1-13), ou seja, ter uma fé viva e ativa, cheia do Espírito Santo. A expectativa do retorno de Cristo nos impede de nos acomodarmos ou de nos apegarmos excessivamente às coisas deste mundo, pois sabemos que tudo é passageiro e que nossa verdadeira recompensa está em Cristo.

3.3. Santidade e pureza de vida

A esperança do arrebatamento é um poderoso incentivo à santidade. João escreve: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 João 3:2-3). A expectativa de ver a Cristo face a face e de ser semelhante a Ele nos motiva a buscar uma vida de pureza e retidão.

Se sabemos que podemos ser arrebatados a qualquer momento, isso nos leva a examinar nossos corações, a confessar nossos pecados e a viver de forma que agrade a Deus. A santidade não é um fardo, mas uma resposta de amor e gratidão àquele que nos amou e se entregou por nós. O arrebatamento nos lembra que a vida cristã não é um ensaio, mas a preparação para a eternidade com um Deus santo.

3.4. Urgência evangelística e missional

A doutrina do arrebatamento também gera uma profunda urgência evangelística. Se o Senhor pode voltar a qualquer momento, e se o juízo aguarda aqueles que não estão em Cristo, então a proclamação do Evangelho se torna a tarefa mais urgente da Igreja. Não há tempo a perder. Somos chamados a ser embaixadores de Cristo, levando a mensagem de salvação a todos os povos, tribos, línguas e nações (2 Coríntios 5:20; Mateus 28:19-20).

A expectativa do arrebatamento nos impulsiona a compartilhar a nossa fé com ousadia e amor, sabendo que a eternidade de muitas pessoas depende de sua resposta ao Evangelho. É um lembrete de que a colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos, e que devemos nos dedicar com fervor à missão que nos foi confiada antes que a porta da oportunidade se feche.

3.5. Discernimento e firmeza doutrinária

Em um cenário onde proliferam falsas doutrinas e especulações sobre os últimos tempos, a compreensão bíblica do arrebatamento nos ajuda a discernir a verdade do erro. A Bíblia nos adverte sobre aqueles que tentarão enganar, até mesmo os eleitos (Mateus 24:24). Um estudo sólido das Escrituras nos capacita a identificar ensinamentos que se desviam da sã doutrina e a permanecer firmes na fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Judas 1:3).

Isso não significa que devemos ser dogmáticos em relação a cada detalhe da cronologia, mas que devemos ser inabaláveis nas verdades fundamentais: a divindade de Cristo, Sua morte e ressurreição, a salvação pela graça mediante a fé, e a certeza de Sua volta. A escatologia nos equipa para navegar pelas complexidades do mundo e da teologia com sabedoria e discernimento, protegendo-nos de enganos e heresias.

3.6. Foco nas coisas eternas

Finalmente, a doutrina do arrebatamento nos ajuda a manter um foco nas coisas eternas, em vez de nos apegarmos excessivamente às coisas passageiras deste mundo. Paulo exorta: “Se, pois, fostes ressuscitados com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Colossenses 3:1-2). A esperança do arrebatamento nos lembra que nossa verdadeira herança está nos céus e que devemos investir no que tem valor eterno.

Isso não significa negligenciar nossas responsabilidades terrenas, mas sim vivê-las com uma perspectiva eterna. Nossos trabalhos, nossos relacionamentos, nossos recursos – tudo pode ser usado para a glória de Deus e para o avanço do Seu Reino, em antecipação ao dia em que seremos levados para estar com Ele para sempre. A vida presente é uma preparação para a eternidade, e o arrebatamento é o evento que nos transportará para essa realidade gloriosa. Viver com essa perspectiva nos liberta da ansiedade e nos enche de propósito e alegria.

4. Esclarecimento de Mitos e Verdades sobre o arrebatamento

Apesar de ser uma doutrina central para muitos cristãos, o arrebatamento é frequentemente cercado por mitos, especulações e interpretações equivocadas. É crucial que, como estudantes da Palavra, busquemos clareza e discernimento para separar a verdade bíblica das fantasias e sensacionalismos que, por vezes, se associam a este tema. Vamos abordar alguns dos mitos mais comuns e reafirmar as verdades bíblicas.

4.1. Mito: O arrebatamento é um conceito moderno

Verdade: Embora a sistematização da doutrina do arrebatamento pré-tribulacional, como a conhecemos hoje, tenha ganhado proeminência a partir do século XIX (com figuras como John Nelson Darby e o movimento dispensacionalista), a ideia de um encontro dos crentes com Cristo nos ares e a esperança de livramento da ira vindoura têm raízes históricas e bíblicas muito mais antigas.

Pais da Igreja como Irineu (século II) e Efrém, o Sírio (século IV), já expressavam a expectativa de um livramento dos justos antes de um período de grande tribulação. A própria Bíblia, como vimos, apresenta claramente a promessa em 1 Tessalonicenses 4 e 1 Coríntios 15. A novidade não está na doutrina em si, mas na sua formulação e na ênfase cronológica que algumas interpretações modernas lhe deram.

4.2. Mito: O arrebatamento será secreto e silencioso

Verdade: A Bíblia descreve o arrebatamento como um evento audível e de grande impacto, embora possa ser repentino e inesperado para o mundo. 1 Tessalonicenses 4:16-17 fala do “alarido”, da “voz de arcanjo” e da “trombeta de Deus”. 1 Coríntios 15:52 menciona o soar da “última trombeta”. Essas descrições não condizem com um evento totalmente secreto e silencioso. Embora o mundo possa não compreender o que está acontecendo, e muitos não o verão, para os crentes será um evento glorioso e inconfundível. A ideia de um arrebatamento secreto e silencioso, popularizada por algumas ficções, não encontra pleno respaldo nas Escrituras.

4.3. Mito: Podemos calcular a data do arrebatamento

Verdade: Jesus foi enfático ao afirmar que “daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mateus 24:36). Qualquer tentativa de marcar datas para o arrebatamento ou para a volta de Cristo é uma violação clara das instruções de Jesus e tem levado a desilusões e descrédito para a fé cristã. A Bíblia nos chama à vigilância e à prontidão, não à especulação cronológica. A iminência do evento, para os pré-tribulacionistas, significa que ele pode ocorrer a qualquer momento, o que torna a marcação de datas não apenas inútil, mas prejudicial.

4.4. Mito: O arrebatamento é uma “fuga” da realidade ou da tribulação

Verdade: A doutrina do arrebatamento não é uma desculpa para a inação ou para uma fuga da responsabilidade cristã no mundo. Pelo contrário, como vimos nas implicações práticas, ela deve nos impulsionar à santidade, à evangelização e ao serviço. A promessa de livramento da ira vindoura não significa que os crentes estão isentos de sofrimento ou perseguição neste mundo. Jesus disse: “No mundo tereis aflições” (João 16:33). Cristãos ao longo da história e em diversas partes do mundo enfrentam perseguição e tribulação. O arrebatamento é um ato soberano de Deus para cumprir Seu plano redentor, não uma forma de escapar das dificuldades da vida. É a consumação da nossa salvação, não uma fuga covarde.

4.5. Mito: A doutrina do arrebatamento causa divisão na igreja

Verdade: Embora as diferentes visões sobre a hora do arrebatamento possam gerar debates e discussões, a doutrina em si não deveria ser um motivo de divisão fundamental na Igreja. A crença na segunda vinda de Cristo e na ressurreição dos mortos é um pilar da fé cristã, presente nos credos históricos. As divergências sobre a cronologia são secundárias em relação à verdade central de que Cristo virá. O amor, a unidade em Cristo e o foco na Grande Comissão devem prevalecer sobre as diferenças interpretativas. É possível ter convicções firmes sobre o arrebatamento e, ao mesmo tempo, respeitar e amar irmãos que possuem visões diferentes, desde que a essência da fé seja mantida.

4.6. Mito: Apenas um Grupo Seleto de Crentes Será Arrebatado

Verdade: A Bíblia ensina que todos os que estão “em Cristo” – ou seja, todos os que genuinamente creram em Jesus como Senhor e Salvador e foram regenerados pelo Espírito Santo – serão participantes do arrebatamento. 1 Tessalonicenses 4:16-17 fala dos “que morreram em Cristo” e “nós, os que ficarmos vivos“. Não há indicação de que apenas um grupo de crentes “mais espirituais” ou “mais preparados” será levado, enquanto outros serão deixados para trás. A salvação é pela graça, mediante a fé, e o arrebatamento é a consumação dessa salvação para todos os redimidos. A exortação à vigilância e santidade é para todos os crentes, como uma resposta de amor e obediência, e não como uma condição para ser arrebatado.

4.7. Verdade: O arrebatamento é um evento de esperança e consumação

Acima de tudo, a verdade central sobre o arrebatamento é que ele representa a consumação da nossa esperança em Cristo. É o momento em que a Igreja, a noiva de Cristo, será finalmente unida ao seu Noivo. É a vitória final sobre a morte e o pecado para os crentes. É a promessa de estar para sempre com o Senhor, em um corpo glorificado, livre de toda dor, sofrimento e tentação. Essa é a verdade que deve encher nossos corações de alegria e expectativa, motivando-nos a viver cada dia para a glória Daquele que vem. A doutrina do arrebatamento, quando compreendida biblicamente, é uma fonte de grande encorajamento e um lembrete do plano perfeito de Deus para Seus filhos.

Conclusão: A bendita esperança que nos impulsiona

O estudo do arrebatamento da Igreja, com suas nuances e diferentes interpretações, nos leva a uma verdade inegável: Jesus Cristo voltará. Essa é a promessa central que permeia as Escrituras e a esperança que sustenta a fé de milhões de cristãos ao redor do mundo. Seja qual for a sua compreensão sobre o timing exato desse evento – pré, meso ou pós-tribulacionista – o mais importante é a certeza de que o Senhor virá para buscar Sua Igreja e levá-la para estar com Ele para sempre.

As discussões teológicas sobre a cronologia do arrebatamento, embora válidas e importantes para aprofundar nosso conhecimento da Palavra, não devem obscurecer a essência da mensagem: a necessidade de vigilância, santidade e prontidão. A promessa do arrebatamento não é um convite à especulação ociosa, mas um chamado à ação, à evangelização e a uma vida que glorifique a Deus em tudo.

Que a “bendita esperança” do arrebatamento encha seu coração de alegria, consolo e expectativa. Que ela o motive a viver cada dia com um senso de propósito, compartilhando a mensagem de salvação e aguardando com fervor o glorioso dia em que os céus se abrirão e ouviremos o alarido, a voz do arcanjo e a trombeta de Deus. Maranata! Ora, vem, Senhor Jesus!

Quer aprofundar seu entendimento sobre os eventos finais? Leia nosso Guia Completo de Escatologia Bíblica: O Guia Completo para Entender os Últimos Tempos e prepare-se para a volta de Cristo!

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