Falar de dinheiro no meio da igreja é um assunto embaraçoso para muitos nos dias de hoje. Mas antes de entrarmos nos erros comuns ao lidar com o dinheiro, vamos voltar um pouco na história do mundo antigo para resgatar esse tema tão pouco explorado e como surgiu o dinheiro.

A História do Dinheiro no Mundo Antigo
3000 a.C. – Mesopotâmia: A economia era baseada em escambo.
Grãos e animais eram usados para pagar dívidas e acordos. O conceito de riqueza estava atrelado à terra e à produção. Desde os tempos antigos, o ser humano busca formas de troca. Pedras, sal, grãos… tudo já serviu como moeda. Mas quando Jesus pisou nesta terra, o dinheiro já não era apenas um meio de troca – ele era símbolo de poder, status e domínio.
1000 a.C. – Primeiras moedas:
Na Lídia (atual Turquia), surgem as primeiras moedas metálicas. O dinheiro passa a ter valor intrínseco. Impérios como Babilônia e Pérsia já cobravam impostos em prata.
Antigo Testamento:
A Bíblia mostra o uso do dinheiro, mas também adverte contra a ganância. O livro de Provérbios, por exemplo, exorta à sabedoria na administração e condena a usura.
No tempo de Jesus: A economia romana e a opressão fiscal
No século I, a Palestina vivia sob o domínio romano. O sistema tributário era pesado, e muitos judeus sofriam com cobranças abusivas dos publicanos. É nesse cenário de exploração e desigualdade que Jesus começa seu ministério. E o que Ele tem a dizer… não é sobre acumular, mas sobre libertar.
1. Confiar no dinheiro em vez de confiar em Deus
Um dos erros mais sutis é colocar a segurança pessoal na conta bancária, no salário ou nos bens materiais. Jesus nos alerta em Mateus 6:24 que não podemos servir a dois senhores — Deus e o dinheiro. Quando confiamos mais nas riquezas do que na providência divina, nos tornamos escravos de algo que deveria ser apenas ferramenta.
O que acontece quando a fé encontra a realidade financeira do dinheiro do dia a dia?
Era uma terça-feira comum. João, um cristão ativo em sua comunidade, estava sentado à mesa com as contas do mês espalhadas como cacos de vidro. Havia boletos, uma planilha com mais vermelho que verde e um vazio incômodo no peito. Ele dizimava, ofertava, ajudava nas campanhas da igreja — mas mesmo assim, sentia que algo não se encaixava.
Aos poucos, foi se dando conta de uma verdade que quase nunca é dita nos púlpitos: generosidade sem sabedoria pode se tornar negligência. E má administração não se resolve apenas com fé, mas com fé aliada à prática. “A Bíblia fala tanto sobre dinheiro quanto sobre oração. Por quê?”, ele se perguntava. Essa pergunta o levou a uma jornada de transformação, guiada pelas Escrituras.
“Eu achava que dízimo era suficiente. Até o dia em que precisei escolher entre pagar a conta de luz ou ajudar um irmão em Cristo. Foi aí que tudo virou.”
O que Jesus realmente ensinou sobre o dinheiro?
Você sabia
“Te disseram que dinheiro é coisa do mundo? Pois foi Jesus quem falou mais sobre finanças do que sobre o céu e o inferno juntos.”
Jesus falou mais sobre dinheiro do que sobre o céu e o inferno juntos. Das 38 parábolas registradas nos evangelhos, 16 tratam sobre o uso de bens materiais. Isso não é coincidência. O Mestre sabia que o coração humano está profundamente ligado à forma como lidamos com o dinheiro: “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mateus 6:21, NVI).
Chamado ao desapego
Logo no início do Sermão do Monte, Jesus mostra que a verdadeira riqueza está no céu. Seu ensino não condena o dinheiro em si, mas o apego a ele. “Não acumulem para vocês tesouros na terra […] pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.” Mateus 6:19-21
Confiança na providência
Jesus contrasta dois senhores: Deus e Mamom. O dinheiro, quando idolatrado, se torna uma divindade concorrente ao Criador. Aqui, Ele ensina a descansar na provisão divina. “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.” Mateus 6:24-34
A moeda e o Império
Jesus não incita rebeliões fiscais, mas revela algo mais profundo: há coisas que pertencem a César, mas o coração pertence somente a Deus. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” Mateus 22:15-22
O jovem rico
Jesus revela que o amor ao dinheiro pode impedir alguém de seguir verdadeiramente a Deus. O problema não está na riqueza, mas no que ela controla. “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu.” Marcos 10:17-22
Zaqueu, o cobrador transformado
Um rico publicano que, ao encontrar Jesus, muda sua relação com o dinheiro: devolve o que roubou e doa aos pobres. O dinheiro se torna instrumento de justiça. “Hoje houve salvação nesta casa.” Lucas 19:1-10
A oferta da viúva
Jesus elogia não a quantia, mas o sacrifício. Ele ensina que o valor espiritual da doação está na intenção do coração, não na quantidade ofertada. “Ela deu tudo o que possuía.” Marcos 12:41-44
Judas e as 30 moedas
O dinheiro também aparece como instrumento de traição. Judas troca o Mestre por prata. Um dos momentos mais sombrios da história mostra o poder destrutivo da ganância. “Que me quereis dar, e eu vos entregarei?” Mateus 26:14-16
2. Ser dominado pela avareza
A Bíblia condena o amor ao dinheiro (1 Timóteo 6:10), pois ele leva à corrupção, ao egoísmo e ao afastamento de Deus. A avareza é uma idolatria disfarçada, onde o acúmulo se torna mais importante que a obediência e a compaixão. A ganância destrói famílias, amizades e a própria fé.
A nova economia do Reino de Deus é marcada pela partilha, generosidade e serviço mútuo. Após a Ressurreição: A Igreja e os Bens. Nos Atos dos Apóstolos, a comunidade cristã primitiva partilhava seus bens. Ninguém considerava seu o que possuía, e “nenhum necessitado havia entre eles” (Atos 4:34).
Jesus nunca condenou a posse de bens, mas a idolatria do coração. Ele chamou ricos, pobres, cobradores de impostos e pescadores. A questão nunca foi o quanto se tem, mas o quanto o coração está disposto a obedecer. Nessa nova economia do Reino de Deus o dinheiro é usado como instrumento do Reino.
Para o cristão, administrar recursos não é apenas uma questão prática — é um ato espiritual.
O livro “Dinheiro, um Assunto Altamente Espiritual” publicado em 1981 do autor Robert McAlister aborda a relação entre finanças e espiritualidade, propondo uma reflexão crítica sobre como o dinheiro é tratado no contexto cristão.
Aqui estão os principais pontos abordados na obra:
- A Importância do Dinheiro na Vida Cristã: McAlister destaca que o dinheiro é um aspecto significativo da vida cristã, influenciando diretamente a espiritualidade e a prática da fé.
- Crítica à Visão Dualista: O autor critica a visão que separa o espiritual do material, argumentando que o dinheiro não deve ser visto como algo secular ou irrelevante para a vida cristã.
- Responsabilidade e Mordomia: McAlister enfatiza a responsabilidade dos cristãos em administrar seus recursos de maneira ética e alinhada aos princípios bíblicos, promovendo uma mordomia financeira consciente.
- Generosidade e Solidariedade: O livro destaca a importância da generosidade, incentivando os cristãos a contribuírem para causas sociais e eclesiásticas, refletindo o amor ao próximo e a prática da solidariedade.
- Crítica ao Triunfalismo Financeiro: McAlister alerta contra a ideia de que a prosperidade financeira é um sinal de bênção divina ou superioridade espiritual, desafiando a teologia da prosperidade.
Esses pontos fornecem uma visão abrangente sobre a abordagem de McAlister em relação ao dinheiro e sua conexão com a espiritualidade cristã. Robert McAlister, em Dinheiro, um Assunto Altamente Espiritual, escreve:
“A maneira como uma pessoa trata o dinheiro é, muitas vezes, um termômetro de sua vida espiritual. Deus quer que sejamos bons mordomos, não apenas ofertantes ocasionais.”
3. Negligenciar a generosidade
Um erro comum entre cristãos é esquecer que somos mordomos e não donos dos bens que possuímos. A generosidade é uma marca do Reino de Deus. Jesus nos ensinou a dar aos pobres, ajudar os necessitados e sustentar a obra. Reter mais do que o necessário revela falta de fé na provisão de Deus.
Por que é tão fácil negligenciar uma vida financeira?
Negligenciar as finanças é uma brecha que afeta casamentos, saúde mental e até o ministério. A Bíblia é clara: “O preguiçoso deseja e nada consegue, mas os desejos do diligente são amplamente satisfeitos” (Provérbios 13:4, NVI). Não se trata apenas de gastar menos — trata-se de viver com propósito, com diligência e visão eterna. O pastor brasileiro Hernandes Dias Lopes afirma: “Não é pecado ter dinheiro. Pecado é o dinheiro ter você. A verdadeira prosperidade começa quando o coração se liberta da avareza.”
4. Gastar impulsivamente ou sem planejamento
A Bíblia nos ensina a sermos prudentes com o que temos (Provérbios 21:5). Gastar sem pensar, viver de aparências, contrair dívidas desnecessárias e negligenciar o planejamento familiar são erros que levam ao caos financeiro — e à ansiedade. O domínio próprio é fruto do Espírito, inclusive nas finanças.
Como confiar em Deus é administrar com responsabilidade?
No deserto, Deus alimentava o povo com maná, mas também lhes dava instruções: colham o suficiente, não acumulem, confiem. Hoje, o princípio continua. Ter uma planilha, controlar entradas e saídas, poupar para emergências e investir com sabedoria são expressões de fé prática. Afinal, o próprio Jesus orientou:
“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito…” (Lucas 16:10, NVI).
“Descobri que minha maior dívida não era com o banco, mas com a Palavra de Deus. A Bíblia tinha um plano financeiro — e eu nunca tinha lido com olhos espirituais.”
O que significa, na prática, ser um mordomo fiel?
Mordomia bíblica é reconhecer que tudo vem de Deus — e tudo é d’Ele. Nosso papel é administrar com integridade, intencionalidade e gratidão. A transformação acontece quando deixamos de ver o dinheiro como fim, e o encaramos como ferramenta do Reino.
Robert McAlister enfatiza: “A mordomia não é opcional. É um princípio do Reino. Deus espera que administremos cada centavo como se fosse d’Ele — porque é.”
Qual é o plano de ação para alinhar fé e finanças?
- Analisar sua realidade financeira com honestidade.
- Arrependimento, se for o caso, por decisões impulsivas ou negligentes.
- Educação, buscando conhecimento cristão e técnico (como o próprio O Homem Mais Rico da Babilônia).
- Planejamento consciente, com metas e prioridades claras.
- Entrega a Deus, com oração e rendição total, colocando Ele no centro de cada decisão financeira.
6. Ignorar o princípio da sabedoria na administração
Provérbios está cheio de conselhos sobre como lidar com o dinheiro com sabedoria. Não buscar conhecimento financeiro, agir por impulso, ou não ouvir conselhos espirituais e práticos são formas de desprezar o entendimento que Deus nos oferece. Fé não anula a razão — elas caminham juntas.
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7. Não consagrar os bens a Deus
Outro erro grave é não reconhecer que tudo pertence ao Senhor. Quando não dizimamos, não ofertamos e não colocamos os bens a serviço do Reino, demonstramos que ainda não rendemos essa área da vida a Deus. O dinheiro que não é consagrado pode se tornar armadilha.
Hoje, em um mundo onde o dinheiro dita status, decisões e até valores, o chamado de Jesus continua ecoando: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça…” (Mateus 6:33)
“Você pode ter MBA em finanças e ainda falhar miseravelmente em sabedoria financeira bíblica. Porque finanças, na Bíblia, têm mais a ver com o coração do que com planilhas.”
Trechos recomendados:
- “As dívidas corroem mais do que o juro: corroem a paz, a fé e a confiança.” — Robert McAlister
- “Guarde ao menos 10% de tudo o que ganhar — e trate isso como uma conta sagrada.” — O Homem Mais Rico da Babilônia
- “Pouco com justiça é melhor do que muita renda com injustiça.” (Provérbios 16:8, NVI)
8. Medir o valor das pessoas pelo que possuem
Jesus constantemente confrontava os fariseus por valorizarem a aparência, o status e as riquezas. A Bíblia nos ensina que o valor de uma pessoa não está naquilo que ela tem, mas em quem ela é em Deus. Quando julgamos os outros pela sua conta bancária, estamos longe do espírito do Evangelho.
Conclusão
Ao analisarmos a relação entre Jesus e o dinheiro, fica evidente que Ele não se preocupava apenas com moedas ou riquezas materiais, mas com o impacto que elas causam na alma humana. Seus ensinamentos revelam que o dinheiro, embora necessário, pode se tornar um ídolo sutil capaz de desviar o coração do propósito eterno. Em diversas passagens, Jesus nos ensina que o problema não está na posse de bens, mas no apego a eles. Ele chama seus discípulos a viverem com o coração desapegado, confiando plenamente na provisão de Deus, praticando a generosidade e usando os recursos como ferramentas para promover a justiça, a compaixão e a expansão do Reino.
A maneira como lidamos com o dinheiro revela muito sobre onde está nossa fé e quais são nossas prioridades. O jovem rico, Zaqueu, a viúva pobre e até Judas Iscariotes são exemplos vivos de como o dinheiro pode tanto servir ao Reino quanto destruí-lo. Ao invés de um manual de finanças, Jesus nos oferece um convite à transformação: Ele nos chama a sermos mordomos fiéis, conscientes de que tudo o que temos pertence a Deus. A verdadeira sabedoria financeira, segundo Cristo, não está em acumular, mas em administrar com propósito e generosidade, evitando os erros comuns de egoísmo, avareza e descontrole.
Que esta mensagem nos leve a uma revisão sincera da nossa relação com o dinheiro. Pois, como Jesus afirmou, onde estiver o nosso tesouro, ali também estará o nosso coração. Se queremos viver uma vida plenamente cristã, precisamos aprender a lidar com o dinheiro como algo altamente espiritual — um reflexo da nossa fé, um termômetro das nossas intenções, e uma ponte entre o que temos e o que Deus deseja realizar através de nós.
A pergunta final que fica é: o que o seu uso do dinheiro revela sobre o seu coração?
Perguntas Frequentes (FAQ)
O que a Bíblia diz sobre dívidas?
A Bíblia orienta cautela: “O rico domina sobre o pobre; quem toma emprestado é escravo de quem empresta” (Provérbios 22:7, NVI).
É errado o cristão desejar enriquecer?
Não, desde que a motivação não seja egoísta. O problema é amar o dinheiro. “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1 Timóteo 6:10, NVI).
Como posso ensinar meus filhos a serem mordomos fiéis?
Através do exemplo. Envolva-os nas decisões simples. Mostre como a fé orienta até os pequenos gastos.
E se meu cônjuge não compartilha da mesma visão?
Ore, dialogue com amor e proponha pequenos passos. A mudança começa em você.

Empresário, cristão e autor dedicado à história da fé cristã.