
Navegando a fé em um mundo individualista
Vivemos em uma era marcada por um forte individualismo. A autonomia pessoal é celebrada, e a busca por uma espiritualidade “sob medida”, desconectada de instituições ou comunidades tradicionais, torna-se cada vez mais comum. Nesse cenário, não é surpresa que a relevância da igreja local seja frequentemente questionada. Vemos o crescimento do fenômeno dos “desigrejados” pessoas que mantêm uma fé pessoal em Cristo, mas optam por não se vincular a uma congregação específica. As razões são variadas: decepções passadas, percepção de hipocrisia, falta de tempo, preferência por conteúdos online ou simplesmente a crença de que a fé é uma jornada estritamente pessoal. A pergunta ecoa em muitos corações e mentes: a igreja local ainda é necessária?
Diante dessas tendências e questionamentos, este artigo se propõe a afirmar, com base nas Escrituras, uma verdade fundamental: a igreja local não é uma mera opção conveniente ou uma tradição cultural ultrapassada, mas um desígnio divino essencial e insubstituível para a vida, o crescimento e a maturidade de todo cristão. Longe de ser um apêndice dispensável à fé individual, a comunidade local de crentes é o ambiente ordenado por Deus para que a vida cristã floresça em sua plenitude. Ignorar ou negligenciar o envolvimento comprometido com uma igreja local é, em essência, tentar viver a fé cristã fora do ecossistema divinamente projetado para sustentá-la.
Ao longo deste guia abrangente, exploraremos a importância da igreja local em múltiplas dimensões. Começaremos mergulhando nos fundamentos bíblicos que estabelecem a igreja como parte central do plano redentor de Deus. Em seguida, desvendaremos os benefícios essenciais e multifacetados que fluem de um pertencimento ativo a uma comunidade de fé, desde o crescimento espiritual e o discipulado até a vivência de relacionamentos autênticos, a participação na adoração corporativa e nas ordenanças, o engajamento na missão de Deus e o recebimento de cuidado pastoral. Finalmente, abordaremos o chamado ao compromisso, refletindo sobre o significado da membresia e como navegar as inevitáveis imperfeições da igreja visível.
Este artigo serve como um ponto central, conectando-se a explorações mais profundas sobre a [Comunidade que transforma], o papel da [Adoração coletiva, ordenanças e ensino], a dinâmica da [Igreja local em missão] e as formas de [superar barreiras e decepções]. Convidamos você a embarcar nesta jornada de redescoberta do valor inestimável da igreja local.
Fundamentos bíblicos da Igreja local: Um projeto divino
Para compreender plenamente a importância da igreja local, é fundamental reconhecer que ela não é uma invenção humana ou um mero clube social religioso. Pelo contrário, a igreja local está profundamente enraizada no plano eterno de Deus, revelado progressivamente ao longo das Escrituras. Desde as sombras do Antigo Testamento até a vibrante realidade do Novo, vemos Deus formando um povo para Si, uma comunidade de adoração e testemunho.
A assembleia de Deus através dos tempos: De Qahal a Ekklesia
A ideia de um povo reunido por Deus não começa no Novo Testamento. No Antigo Testamento, o termo hebraico qahal é frequentemente usado para descrever a assembleia ou congregação de Israel, o povo escolhido por Deus (por exemplo, Deuteronômio 9:10, 1 Reis 8:14). Esta qahal era a comunidade visível do pacto, reunida para adoração, instrução e vida comunitária sob a aliança mosaica. Embora distinta da igreja neotestamentária, a qahal prefigura a intenção divina de ter um povo reunido e identificado com Ele.
No Novo Testamento, o termo grego correspondente é ekklesia, que literalmente significa “os chamados para fora”. Era um termo comum no mundo greco-romano para designar uma assembleia de cidadãos convocada para tratar de assuntos públicos. No entanto, os escritores do Novo Testamento apropriaram-se deste termo para descrever a nova comunidade formada por aqueles que foram chamados por Deus para fora do mundo, através da fé em Jesus Cristo, para pertencerem a Ele e uns aos outros.
A ekklesia é, portanto, a assembleia dos redimidos, o povo da nova aliança. Embora possa se referir à Igreja universal (todos os crentes de todos os tempos e lugares), o termo é predominantemente usado no Novo Testamento para designar congregações locais específicas, a igreja em Jerusalém, em Antioquia, em Corinto, em Éfeso, etc. Isso demonstra que a expressão concreta e visível da Igreja universal se dá primariamente no contexto da igreja local.
Cristo e a igreja: A cabeça e o corpo
A relação entre Cristo e a Igreja é descrita de forma íntima e orgânica. Efésios 1:22-23 declara que Deus Pai “sujeitou todas as coisas debaixo dos pés [de Cristo] e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”. Colossenses 1:18 reitera: “Ele [Cristo] é a cabeça do corpo, da igreja”.
Essa metáfora poderosa revela várias verdades cruciais. Primeiro, Cristo é a autoridade suprema sobre a Igreja. Ele a governa, a dirige e a sustenta. Segundo, a Igreja deriva sua vida e unidade de Cristo, sua cabeça. Assim como um corpo não pode viver separado da cabeça, a Igreja não tem vida à parte de Cristo. Terceiro, a Igreja é o instrumento através do qual Cristo continua a Sua obra no mundo. Ela é a Sua representação visível, a Sua “plenitude”. Essa conexão vital entre Cristo e a Igreja sublinha a importância de pertencermos e participarmos ativamente do Seu corpo visível, a igreja local.
O Modelo da Igreja Primitiva em Atos
O livro de Atos oferece um vislumbre vívido da vida das primeiras igrejas locais. Após o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, lemos sobre a igreja em Jerusalém:
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” (Atos 2:42-47)
Este retrato inspirador destaca quatro pilares da vida da igreja local primitiva: o ensino apostólico (a Palavra de Deus), a comunhão (koinonia, parceria e compartilhamento de vida), o partir do pão (provavelmente incluindo a Ceia do Senhor e refeições comunitárias) e as orações. Vemos também uma comunidade caracterizada pelo temor a Deus, poder espiritual, unidade, generosidade radical, adoração constante (tanto no templo quanto nas casas) e um testemunho evangelístico eficaz. Embora nem todas as igrejas locais em Atos fossem perfeitas (como vemos nas epístolas), este modelo inicial estabelece um padrão e demonstra a centralidade da vida comunitária na experiência cristã primitiva.
O Mandamento para congregar
A necessidade de envolvimento na igreja local não é apenas modelada, mas também ordenada. A passagem mais explícita é Hebreus 10:24-25:
“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.”
Este texto não apenas proíbe o abandono do hábito de se reunir (congregar), mas também conecta essa reunião ao propósito de estimular uns aos outros ao amor e às boas obras e à prática da admoestação mútua.
A reunião regular da comunidade cristã não é, portanto, um fim em si mesma, mas um meio vital para o crescimento mútuo em santidade e serviço. Além desta exortação direta, a necessidade de congregar está implícita em todos os mandamentos do Novo Testamento que pressupõem um contexto comunitário para seu cumprimento: os numerosos mandamentos de “uns aos outros” (amar, servir, perdoar, suportar, encorajar, etc.), as instruções sobre adoração corporativa, o exercício dos dons espirituais para a edificação mútua, a submissão à liderança pastoral e a prática das ordenanças.
Metáforas bíblicas da igreja
O Novo Testamento utiliza diversas metáforas ricas para descrever a natureza e a importância da igreja, muitas das quais se aplicam diretamente à igreja local:
Corpo de Cristo (1 Coríntios 12): Enfatiza a unidade na diversidade, a interdependência dos membros e a necessidade de cada um funcionar em harmonia sob a direção de Cristo, a cabeça. Cada membro é vital para a saúde e o funcionamento do todo. Deus chama todos os crentes a fazerem sua parte no cuidado da igreja local.
Família de Deus (Efésios 2:19, 1 Timóteo 5:1-2): Destaca os relacionamentos íntimos, o amor fraternal, o cuidado mútuo e a identidade compartilhada como filhos de Deus e irmãos em Cristo.
Edifício/Templo do Espírito Santo (1 Coríntios 3:16, Efésios 2:21-22, 1 Pedro 2:5): Aponta para a igreja como a morada de Deus pelo Seu Espírito, um lugar de adoração e santidade, construído sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo Cristo como a pedra angular. Cada crente é uma “pedra viva” neste edifício espiritual.
Noiva de Cristo (Efésios 5:25-27, Apocalipse 19:7-9): Ilustra o amor sacrificial de Cristo pela Igreja, Seu desejo de purificá-la e apresentá-la a Si mesmo gloriosa, e a relação de intimidade e fidelidade entre Cristo e Seu povo.
Cada uma dessas metáforas, e outras como rebanho, lavoura, coluna e baluarte da verdade, ilumina diferentes facetas da identidade e do propósito da Igreja, reforçando a ideia de que a vida cristã foi projetada para ser vivida em conexão profunda e comprometida com a comunidade visível dos crentes, a igreja local.
Benefícios de pertencer a uma igreja local: Um ecossistema para a alma
Compreendidos os fundamentos bíblicos, podemos agora explorar os benefícios da igreja local. Longe de ser um fardo ou uma mera formalidade, o envolvimento ativo em uma igreja local saudável é um dos maiores presentes de Deus para o Seu povo. Funciona como um ecossistema divinamente projetado para nutrir, proteger, equipar e impulsionar a vida espiritual de cada crente. Vejamos alguns dos benefícios essenciais e insubstituíveis que só podem ser plenamente experimentados no contexto da comunidade local de fé.
Crescimento espiritual e discipulado contínuo
A igreja local é o principal ambiente para o crescimento espiritual e o discipulado intencional. Isso acontece de várias maneiras cruciais:
Ensino fiel da Palavra: Como vimos em Atos 2:42, a igreja primitiva perseverava na doutrina dos apóstolos. A pregação e o ensino regulares da Palavra de Deus são o alimento espiritual que nutre a fé, renova a mente e equipa os crentes para a vida e a piedade (2 Timóteo 3:16-17). Uma igreja saudável prioriza a exposição fiel e relevante das Escrituras.
Prestação de contas e correção fraterna: Viver em comunidade nos expõe à prestação de contas mútua. Somos chamados a confessar nossos pecados uns aos outros (Tiago 5:16) e a restaurar com mansidão aqueles que caem (Gálatas 6:1-2). A estrutura da igreja também provê um processo para lidar com o pecado de forma redentora, buscando a restauração do indivíduo e a pureza da comunidade (Mateus 18:15-17).
Modelo de vida piedosa: Aprendemos e somos inspirados ao observar a vida de líderes e membros maduros na fé. Hebreus 13:7 nos exorta a lembrar dos nossos líderes, imitando a sua fé ao considerar o resultado de sua maneira de viver. A comunidade cristã oferece exemplos vivos de como aplicar a Palavra de Deus nas diversas circunstâncias da vida.
Comunidade autêntica e relacionamentos saudáveis
Deus nos criou como seres relacionais, e a igreja local é o lugar onde experimentamos a profundidade da comunidade cristã (koinonia).
Comunhão e Koinonia: A comunhão bíblica vai além da mera socialização; é uma parceria profunda no Evangelho, um compartilhamento de vida, alegrias e fardos (Atos 2:42, Filipenses 1:5). É andar na luz, em relacionamento transparente com Deus e uns com os outros (1 João 1:7).
Suporte mútuo (“Uns aos Outros”): A vida cristã não foi feita para ser vivida isoladamente. Na igreja local, encontramos uma rede de apoio vital. Somos chamados a amar uns aos outros (Romanos 12:10), levar as cargas uns dos outros (Gálatas 6:2), encorajar e edificar uns aos outros (1 Tessalonicenses 5:11), chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram (Romanos 12:15).
Exercício dos dons espirituais: Deus concede dons espirituais a cada crente “visando um fim proveitoso” – a edificação do corpo de Cristo (1 Coríntios 12:7). A igreja local é o contexto primário onde descobrimos, desenvolvemos e usamos nossos dons para servir aos outros e glorificar a Deus (Romanos 12:4-8, 1 Pedro 4:10). A diversidade de dons cria uma interdependência saudável e demonstra a beleza multiforme da graça de Deus. Aprofundamos neste aspecto vital no artigo [Comunidade que Transforma].
Adoração coletiva e celebração das ordenanças
A igreja local é o centro da adoração coletiva e o lugar onde as ordenanças instituídas por Cristo são administradas.
Adoração coletiva: Reunir-se para adorar a Deus coletivamente é um privilégio e um mandamento (Salmo 95:6, Hebreus 10:25). Cantar hinos e cânticos espirituais, orar juntos, ouvir a Palavra pregada, ofertar, tudo isso edifica a fé, expressa nossa unidade em Cristo e O glorifica de uma maneira única (Efésios 5:19, Colossenses 3:16).
Administração das ordenanças: Jesus instituiu duas ordenanças (ou sacramentos) a serem observadas pela Sua Igreja: o Batismo e a Ceia do Senhor. O Batismo é o sinal público de identificação com Cristo e entrada na comunidade da aliança (Mateus 28:19, Romanos 6:3-4). A Ceia do Senhor é uma refeição memorial que proclama a morte de Cristo, nutre nossa comunhão com Ele e uns com os outros, e antecipa Sua volta (1 Coríntios 11:23-26). Essas ordenanças são administradas de forma significativa e ordenada no contexto da igreja local. Exploramos mais sobre isso em [Adoração Corporativa, Ordenanças e Ensino].
Engajamento na missão e oportunidades de serviço
A igreja local não existe apenas para si mesma, mas para ser a base de operações da missão da igreja no mundo.
Base para evangelismo e missões: A Grande Comissão de fazer discípulos de todas as nações foi dada à Igreja (Mateus 28:19-20). A igreja local é o veículo principal através do qual o evangelho é proclamado, tanto localmente quanto globalmente (Atos 1:8). Ela treina, envia e apoia aqueles que levam a mensagem de Cristo.
Oportunidades de serviço e impacto: A fé genuína se manifesta em obras de amor e serviço (Tiago 2:14-17). A igreja local organiza e mobiliza seus membros para servir uns aos outros e à comunidade ao redor, demonstrando o amor de Cristo de maneiras práticas (Gálatas 6:10, Tiago 1:27). Ela oferece inúmeras oportunidades para usarmos nossos recursos e talentos para o bem comum. Veja mais em [Igreja Local em Missão].
Cuidado pastoral e liderança
Deus estabeleceu líderes na igreja local para o cuidado e a edificação do Seu rebanho. Chamados para auxiliar na difícil tarefa de construir uma ponte sobre o abismo existente entre a igreja e o mundo pós-moderno. Ninguém está tão longe ou perdido que Deus não o possa alcançar! Deus institui sua igreja contando com pessoas imperfeitas, em situações aparentemente sem esperança. O papel da igreja através dos pastores e líderes é apresentar caminhos para derrubar as barreiras que afastam as novas gerações do amor de Deus.
Supervisão e cuidado dos pastores/presbíteros: Pastores e presbíteros são chamados a pastorear o rebanho de Deus, vigiando pelas almas dos crentes como quem há de prestar contas (Atos 20:28, 1 Pedro 5:1-4, Hebreus 13:17). Eles oferecem cuidado pastoral, ensino, aconselhamento e liderança espiritual. Estar sob esse cuidado é uma proteção e um benefício da igreja.
Estrutura e ordem: A liderança bíblica também provê estrutura e ordem para a vida da igreja, garantindo que as coisas sejam feitas “com decência e ordem” (1 Coríntios 14:40) e que a igreja funcione de maneira saudável e eficaz (Tito 1:5).
Esses benefícios, entrelaçados e interdependentes, demonstram que a igreja local é muito mais do que um lugar para frequentar aos domingos. É o ambiente vital onde somos nutridos, corrigidos, encorajados, equipados e enviados a viver a plenitude da vida que Cristo oferece.
O chamado ao compromisso com a igreja local: Mais que frequentador, membro
Reconhecer os fundamentos bíblicos e os benefícios essenciais da igreja local nos leva a uma conclusão inevitável: Deus nos chama a um compromisso sério e ativo com uma comunidade local de fé. Não fomos projetados para ser meros espectadores ou consumidores religiosos, mas membros vivos e participantes do corpo de Cristo. Este chamado ao compromisso envolve entender o significado da membresia na igreja, aprender a navegar as realidades de uma igreja imperfeita e abraçar nosso papel como contribuintes ativos para a saúde e a missão da comunidade.
Membresia: O elo visível de pertencimento
Embora o termo “membresia” não apareça explicitamente nas Escrituras da mesma forma que em um clube moderno, o conceito de um compromisso formal e reconhecido com uma igreja local está fortemente implícito. Como vimos, a igreja primitiva mantinha registros (Atos 2:41, 47), exercia disciplina (1 Coríntios 5), reconhecia líderes e liderados (Hebreus 13:17) e tinha listas organizadas (1 Timóteo 5:9). A membresia na igreja formaliza esse relacionamento bíblico. É uma declaração pública de identificação com um corpo específico de crentes e de submissão mútua à sua liderança e disciplina, sob a autoridade de Cristo.
Ser membro significa dizer: “Eu pertenço a este povo, e este povo pertence a mim. Estamos juntos nesta jornada, comprometidos uns com os outros e com a missão de Cristo nesta localidade”. É passar de um frequentador casual para um participante comprometido, assumindo responsabilidades e privilégios dentro da família da fé local.
Superando obstáculos: Abraçando a igreja imperfeita
O chamado ao compromisso seria mais fácil se as igrejas locais fossem perfeitas. No entanto, a realidade é que toda igreja local é composta por pecadores redimidos, ainda em processo de santificação. Isso significa que encontraremos falhas, inconsistências, pecados e, infelizmente, até mesmo feridas. É crucial ter uma teologia bíblica da igreja que reconheça essa tensão entre o ideal divino e a realidade humana. A igreja visível sempre terá “joio” misturado com o “trigo” (Mateus 13:24-30). Esperar perfeição é irrealista e nos prepara para a decepção.
Em vez de abandonar a igreja por causa de suas imperfeições, somos chamados a perseverar em amor, paciência e perdão (Colossenses 3:13). Isso não significa ignorar o pecado ou aceitar abusos, mas sim lidar com os problemas de maneira bíblica, buscando a restauração e a reconciliação sempre que possível. Precisamos focar em Cristo, o cabeça perfeito da Igreja, e nos comprometer a ser parte da solução, não apenas críticos. Abordamos mais profundamente como lidar com desafios e decepções específicas no artigo [Superando Barreiras: Redescobrindo o Valor da Igreja Local – link para C4].
Encontrando e se Integrando a uma Igreja Local Saudável
Dado que nem todas as igrejas são igualmente fiéis ou saudáveis, como encontrar uma comunidade à qual podemos nos comprometer? Embora não haja uma fórmula única, alguns critérios bíblicos essenciais devem guiar nossa busca por uma igreja local saudável:
- Fidelidade à Palavra de Deus: A Bíblia é ensinada como a autoridade final e suficiente? A pregação é centrada no evangelho e busca expor fielmente o texto bíblico (pregação expositiva)?
- Administração Correta das Ordenanças: O Batismo e a Ceia do Senhor são praticados conforme o ensino bíblico?
- Comunidade Genuína: Há evidências de amor fraternal, cuidado mútuo, comunhão e prestação de contas?
- Liderança Qualificada: Os líderes atendem às qualificações bíblicas (1 Timóteo 3, Tito 1) e pastoreiam o rebanho com integridade e humildade?
- Foco na Missão: A igreja está engajada em fazer discípulos e proclamar o evangelho, tanto local quanto globalmente?
Uma vez encontrada uma igreja que demonstra essas marcas de saúde, o próximo passo é a integração. Isso envolve mais do que apenas assistir aos cultos. Significa buscar relacionamentos, participar de grupos menores, encontrar formas de servir usando seus dons e, eventualmente, formalizar o compromisso através da membresia na igreja.
O Papel Ativo do Membro: Contribuir, Servir, Amar, Submeter-se
O compromisso com a igreja local não é passivo. Cada membro tem um papel vital a desempenhar na vida e na saúde da comunidade. Somos chamados a:
Contribuir: Com nosso tempo, talentos e recursos financeiros para o sustento e a missão da igreja (2 Coríntios 9:7, Malaquias 3:10).
Servir: Usando os dons que Deus nos deu para edificar o corpo e atender às necessidades uns dos outros (1 Pedro 4:10-11).
Amar: Demonstrando amor sacrificial, paciência e perdão em nossos relacionamentos dentro da igreja (João 13:34-35).
Submeter-se: Respeitando e apoiando a liderança estabelecida por Deus, enquanto eles seguem a Cristo (Hebreus 13:17).
Proteger a Unidade: Esforçando-nos para manter a unidade do Espírito no vínculo da paz (Efésios 4:3).
Orar: Intercedendo pela igreja, seus líderes e seus membros (Efésios 6:18).
Abraçar o chamado ao compromisso com uma igreja local é abraçar o plano de Deus para nossa própria santificação e para o avanço do Seu Reino no mundo. É um chamado desafiador, mas imensamente recompensador.
Conclusão: Valorizando o presente da igreja local
Nossa jornada através dos fundamentos bíblicos, benefícios essenciais e do chamado ao compromisso nos revela uma verdade inegável: a importância da igreja local é, de fato, insondável. Ela não é uma mera construção humana, uma opção entre muitas ou um fardo a ser tolerado, mas um presente precioso de Deus, central para o Seu plano redentor e vital para a nossa peregrinação de fé. Desde a qahal do Antigo Testamento até a ekklesia do Novo, Deus sempre desejou um povo reunido, uma comunidade visível que O adorasse, aprendesse Dele, cuidasse uns dos outros e refletisse Seu caráter ao mundo.
Como corpo de Cristo, a igreja local é o lugar onde experimentamos Sua presença e poder de maneira única. Como família de Deus, encontramos pertencimento, amor e suporte mútuo. Como templo do Espírito, somos edificados juntos em santidade. Como noiva de Cristo, somos amados, purificados e preparados para o encontro final com o Noivo. Os benefícios da igreja são vastos: crescimento através do ensino fiel, nutrição pela adoração e ordenanças, fortalecimento pela comunhão e pelo exercício dos dons, proteção pelo cuidado pastoral e propósito pelo engajamento na missão.
Sim, a igreja visível é imperfeita, pois é composta por pessoas imperfeitas. Enfrentaremos desafios, decepções e a necessidade constante de graça e perdão. Mas essas imperfeições não anulam o desígnio divino nem diminuem a importância da igreja local. Pelo contrário, elas nos chamam a um compromisso mais profundo, um compromisso de amar como Cristo amou, de servir como Ele serviu, de perseverar em unidade e de buscar a pureza e a saúde da comunidade à qual pertencemos.
Portanto, o desafio final para cada um de nós é claro: valorize a igreja local. Não a trate com indiferença ou desdém. Não permita que as dificuldades ou o espírito individualista da época o afastem do lugar que Deus designou para o seu florescimento espiritual. Em vez disso, comprometa-se. Encontre uma comunidade cristã biblicamente fiel, mergulhe nela, invista seus dons, compartilhe sua vida, ame seus irmãos e irmãs, submeta-se à liderança piedosa e participe ativamente da missão. Que possamos redescobrir a beleza, a necessidade e a alegria de pertencer e contribuir para a igreja local, para a glória de Deus e para a edificação do Seu povo.
Que o Deus de toda a graça, que nos chamou para a Sua glória eterna em Cristo Jesus, depois de termos sofrido um pouco, Ele mesmo nos aperfeiçoe, firme, fortifique e estabeleça. A Ele seja o domínio pelos séculos dos séculos. Amém. (Adaptado de 1 Pedro 5:10-11)
Recursos Adicionais
Citação: “A igreja local é a esperança do mundo.” – Bill Hybels
Versículos Chave: Hebreus 10:24-25, Atos 2:42-47, 1 Coríntios 12:12-27, Efésios 4:11-16, Mateus 28:19-20.
Perguntas para Reflexão: Como minha visão sobre a igreja local se alinha com a perspectiva bíblica? De que maneiras específicas posso me comprometer mais ativamente com minha comunidade local esta semana? Quais dons Deus me deu para edificar minha igreja?
Links Externos: O que é uma Igreja Saudável? de Mark Dever, Proibido a entrada de pessoas perfeitas de John Burke

Empresário, cristão e autor dedicado à história da fé cristã.
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