Como a igreja local cria relacionamentos mútuos

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Introdução: O anseio humano em pertencer

No âmago do ser humano reside um profundo anseio por pertencimento, por conexão significativa com outros. Fomos criados para viver em relacionamento, para compartilhar a jornada da vida em comunidade. No entanto, a cultura contemporânea frequentemente nos empurra na direção oposta, exaltando o individualismo, a autossuficiência e a privacidade acima de tudo. Em um mundo cada vez mais conectado digitalmente, muitos se sentem paradoxalmente mais isolados e desconectados de relacionamentos autênticos e profundos. A busca por comunidade genuína torna-se, assim, não apenas um desejo, mas uma necessidade vital para o florescimento humano.

É neste contexto que a comunidade na igreja local emerge não como uma mera opção social, mas como o ambiente divinamente projetado por Deus para satisfazer essa necessidade intrínseca e, mais importante, para impulsionar a nossa transformação espiritual à imagem de Cristo. A igreja local é o lugar onde a fé deixa de ser uma experiência puramente individual e se torna uma jornada compartilhada, onde somos conhecidos, amados, desafiados e apoiados. É na dinâmica dos relacionamentos na igreja, na prática da comunhão cristã e no exercício do suporte mútuo cristão que o Evangelho ganha vida de maneiras tangíveis e transformadoras.

Esta comunidade vibrante é um aspecto central da [importância insondável da igreja local], como exploramos em nosso guia completo. Neste artigo, mergulharemos especificamente na riqueza e no poder transformador da comunidade na igreja local. Investigaremos o projeto divino da koinonia, exploraremos como nutrir relacionamentos autênticos, desvendaremos a força do suporte mútuo expresso nos mandamentos de “uns aos outros”, celebraremos a unidade na diversidade do corpo de Cristo e compreenderemos como a comunidade funciona como um catalisador essencial para a nossa santificação. Prepare-se para descobrir como a igreja local é, por desígnio de Deus, uma comunidade que verdadeiramente transforma.

O Projeto Divino da Comunidade (Koinonia): Mais que amizade, parceria no evangelho

A comunidade na igreja local não é um acidente histórico ou uma conveniência social; é um projeto intencional de Deus, profundamente tecido na própria natureza da fé cristã. O termo grego frequentemente usado no Novo Testamento para descrever essa comunhão profunda é koinonia. Compreender o significado e as raízes bíblicas da koinonia é essencial para apreciarmos o valor transformador da comunidade cristã.

Koinonia: Uma Parceria Profunda

Muitas vezes, traduzimos koinonia simplesmente como “comunhão” ou “companheirismo”. Embora essas palavras capturem parte do significado, koinonia implica algo muito mais profundo do que mera socialização ou amizade casual. Na sua essência, koinonia significa “participação”, “compartilhamento” ou “parceria”. Refere-se a ter algo em comum e participar juntos nesse algo. No contexto cristão, o “algo” que temos em comum é a nossa fé em Jesus Cristo, a nossa participação no Evangelho e a nossa união com Deus através do Espírito Santo (Filipenses 1:5, 1 João 1:3, 2 Coríntios 13:13).

A comunhão cristã, portanto, não se baseia primariamente em interesses comuns, personalidades compatíveis ou status social, mas na nossa identidade compartilhada em Cristo. É uma parceria espiritual profunda, enraizada na graça de Deus e voltada para o propósito de Deus.

As Raízes Bíblicas da Koinonia

A ideia de comunidade está presente desde o início da revelação bíblica. O próprio Deus existe eternamente como uma comunidade: Pai, Filho e Espírito Santo, três Pessoas distintas em perfeita unidade e comunhão amorosa. A Trindade é o arquétipo supremo da koinonia. Fomos criados à imagem desse Deus relacional (Gênesis 1:26-27), o que implica que fomos feitos para viver em comunidade.

Jesus Cristo, durante Seu ministério terreno, modelou a vida em comunidade. Ele não realizou Sua obra isoladamente, mas chamou doze discípulos para estarem com Ele, aprenderem Dele e participarem de Sua missão (Marcos 3:14). Ele compartilhou Sua vida com eles, ensinou-os, corrigiu-os, orou por eles e os enviou. O relacionamento de Jesus com Seus discípulos fornece um padrão para os relacionamentos na igreja.

A prática da igreja primitiva, como registrada no livro de Atos, demonstra vividamente a koinonia em ação. Como mencionado anteriormente (Atos 2:42), a comunhão (koinonia) era um dos quatro pilares da vida da igreja em Jerusalém. Isso se manifestava em compartilhamento de bens (Atos 2:44-45, 4:32), refeições conjuntas (Atos 2:46), oração mútua e um profundo senso de unidade e propósito. Eles entendiam que ser cristão significava pertencer a uma comunidade.

A Igreja como Família de Deus: Pertencendo Uns aos Outros

Outra metáfora poderosa usada para descrever a comunidade na igreja local é a de “família de Deus” ou “casa de Deus”. Paulo escreve aos Efésios: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus (Efésios 2:19). Em sua carta a Timóteo, ele instrui sobre como tratar os membros da igreja: os homens mais velhos como pais, os mais moços como irmãos, as mulheres mais velhas como mães e as mais moças como irmãs, com toda a pureza (1 Timóteo 5:1-2).

Essa linguagem familiar tem implicações práticas profundas para os relacionamentos na igreja. Significa que somos mais do que conhecidos ou colegas; somos irmãos e irmãs em Cristo. Compartilhamos um Pai celestial, fomos adotados em Sua família pela fé em Cristo (Gálatas 4:4-7) e temos uma herança eterna juntos. Isso implica um nível de compromisso, lealdade, cuidado e responsabilidade mútua que transcende os laços de amizade comuns. Na família de Deus, celebramos juntos, choramos juntos, carregamos os fardos uns dos outros e nos ajudamos a crescer. Compreender a igreja como família nos ajuda a ver a comunidade na igreja local não como uma opção, mas como nosso lar espiritual, o lugar onde pertencemos.

Nutrindo Relacionamentos Autênticos: A Prática da Koinonia

Compreender a koinonia como um projeto divino e a igreja como nossa família espiritual é o fundamento. No entanto, a comunidade na igreja local não se constrói automaticamente; ela precisa ser cultivada intencionalmente através de práticas que fomentem relacionamentos na igreja autênticos e profundos. Viver a comunhão cristã no dia a dia exige esforço, graça e um compromisso mútuo com a verdade e o amor. Vejamos algumas práticas essenciais para nutrir esses relacionamentos transformadores.

Vulnerabilidade e Transparência: O Solo Fértil para a Conexão

Relacionamentos superficiais raramente levam à transformação. A verdadeira koinonia floresce em um ambiente de confiança mútua, onde os membros se sentem seguros para serem vulneráveis e transparentes sobre suas vidas, incluindo suas lutas, dúvidas e pecados. Tiago 5:16 nos exorta: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados”. Essa confissão mútua não busca a exposição humilhante, mas a cura, o apoio e a libertação encontrados na honestidade compartilhada dentro da comunidade cristã.

Criar uma cultura onde a vulnerabilidade é acolhida, e não julgada, é crucial. Isso começa quando líderes e membros maduros modelam essa transparência, compartilhando suas próprias fraquezas e dependência da graça de Deus. Pequenos grupos e relacionamentos de discipulado são contextos ideais para cultivar essa abertura.

Hospitalidade: Abrindo Corações e Lares

A hospitalidade é uma marca distintiva da comunidade cristã primitiva e um mandamento claro para os crentes (Romanos 12:13, 1 Pedro 4:9, Hebreus 13:2). Ser hospitaleiro vai além de simplesmente convidar pessoas para uma refeição; trata-se de abrir nossos corações e vidas para acolher, incluir e cuidar dos outros, especialmente dos recém-chegados, dos solitários ou dos necessitados. A prática da hospitalidade quebra barreiras, constrói pontes e demonstra o amor acolhedor de Cristo de forma tangível. Seja através de um convite para um café, uma refeição em casa, ou simplesmente dedicando tempo para conversar após o culto, a hospitalidade fortalece os laços da comunidade na igreja local e cria um ambiente onde os relacionamentos na igreja podem florescer.

Comunicação Edificante: Falando a Verdade em Amor

A qualidade dos nossos relacionamentos na igreja depende grandemente da forma como nos comunicamos. Efésios 4:15 nos chama a “seguir a verdade em amor” e o versículo 29 instrui: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”.

A comunicação edificante envolve tanto falar a verdade (mesmo quando difícil, como na correção fraterna) quanto fazê-lo com amor, graça e sensibilidade. Isso significa evitar fofocas, calúnias, críticas destrutivas e palavras ásperas. Em vez disso, devemos buscar encorajar, consolar, instruir e fortalecer uns aos outros com nossas palavras. Uma comunidade na igreja local saudável é caracterizada por uma comunicação que constrói, e não destrói.

Perdão e Reconciliação: Restaurando Laços Quebrados

Onde quer que pecadores se reúnam, haverá conflitos, mal-entendidos e feridas. A comunidade na igreja local não está imune a isso. A questão não é se os conflitos surgirão, mas como lidaremos com eles. Jesus nos deu um padrão claro para buscar a reconciliação em Mateus 18:15-22. Somos chamados a perdoar uns aos outros, assim como Deus em Cristo nos perdoou (Efésios 4:32, Colossenses 3:13). O perdão não minimiza a dor nem ignora a ofensa, mas escolhe liberar o ressentimento e buscar a restauração do relacionamento. A prática constante do perdão e da reconciliação é essencial para manter a unidade e a saúde dos relacionamentos na igreja.

Uma comunidade que aprende a lidar com conflitos de maneira bíblica demonstra o poder transformador do Evangelho e se torna um testemunho poderoso para o mundo. Aprofundamos mais sobre como lidar com feridas e decepções em [Superando Barreiras – link para C4].

Ao praticarmos a vulnerabilidade, a hospitalidade, a comunicação edificante e o perdão, criamos um ambiente onde a koinonia pode florescer e os relacionamentos na igreja se tornam canais da graça transformadora de Deus.

O força do suporte mútuo (“uns aos outros”): Carregando os fardos juntos

A comunidade na igreja local não é apenas um lugar para construir amizades, mas uma rede vital de suporte mútuo cristão. O Novo Testamento está repleto de mandamentos que começam com a expressão “uns aos outros” (allelon em grego), revelando a natureza interdependente e solidária da vida no corpo de Cristo. Esses mandamentos não são sugestões opcionais, mas instruções divinas sobre como a comunidade cristã deve funcionar na prática, demonstrando o amor de Cristo e sustentando seus membros em meio às alegrias e dificuldades da vida.

Amor fraternal: O fundamento de tudo

O mandamento supremo que permeia todos os outros é o amor. Jesus disse: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:34-35). Paulo ecoa esse chamado em Romanos 12:10: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros”. Esse amor (agape) não é apenas um sentimento, mas uma ação sacrificial, um compromisso de buscar o bem do outro, mesmo à custa pessoal. É o alicerce sobre o qual todo o suporte mútuo cristão é construído nos relacionamentos na igreja.

Encorajamento e consolo: Fortalecendo corações cansados

A vida cristã tem seus desafios, tristezas e momentos de desânimo. A comunidade na igreja local é o lugar onde encontramos encorajamento e consolo. “Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como também estais fazendo” (1 Tessalonicenses 5:11). Paulo nos lembra que Deus é o “Pai de misericórdias e Deus de toda consolação”, que “nos consola em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” (2 Coríntios 1:3-4). Compartilhar palavras de esperança, lembrar as promessas de Deus, ouvir com empatia e simplesmente estar presente são formas poderosas de oferecer suporte mútuo cristão.

Serviço e ajuda prática: O amor em ação

O amor na comunidade cristã não é apenas verbal; ele se manifesta em serviço prático. Somos chamados a “servir uns aos outros em amor” (Gálatas 5:13) e a “levar as cargas uns dos outros e, assim, cumprir a lei de Cristo” (Gálatas 6:2). Isso pode envolver ajudar um irmão em necessidade financeira, preparar uma refeição para uma família que passa por dificuldades, oferecer transporte, cuidar de crianças, ajudar em uma mudança ou simplesmente oferecer um ombro amigo. Gálatas 6:10 nos instrui: “Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”. A comunidade na igreja local oferece inúmeras oportunidades para colocar nossa fé em ação através do serviço.

Oração intercessória: Levando uns aos outros ao trono da graça

Uma das formas mais poderosas de suporte mútuo cristão é a oração intercessória. Tiago 5:16 nos instrui a “orar uns pelos outros”. Levar as necessidades, lutas, dores e alegrias de nossos irmãos e irmãs diante de Deus em oração é um ato profundo de amor e cuidado. A oração intercessória une nossos corações, fortalece nossa dependência de Deus e libera o Seu poder para agir na vida uns dos outros. Uma comunidade na igreja local que ora fervorosamente uns pelos outros experimenta um nível mais profundo de conexão e dependência de Deus.

Exortação e admoestação: Falando a verdade para o crescimento

O suporte mútuo cristão também envolve a responsabilidade de nos ajudarmos a crescer em santidade, o que às vezes requer exortação e admoestação. Hebreus 3:13 nos adverte: “Exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”. Colossenses 3:16 nos instrui a “habitar, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria”. Feita com humildade, amor e baseada na Palavra de Deus, a exortação mútua é uma ferramenta vital para o crescimento e a proteção espiritual dentro da comunidade na igreja local.

Honra e submissão mútua: Cultivando a humildade

Finalmente, os mandamentos de “uns aos outros” nos chamam a uma postura de humildade e respeito mútuo. Romanos 12:10 diz para nos preferirmos “em honra uns aos outros”. Efésios 5:21 nos chama a nos sujeitarmos “uns aos outros no temor de Cristo”. Isso combate o orgulho e a autossuficiência, criando uma dinâmica de serviço e respeito nos relacionamentos na igreja. Reconhecemos que cada membro do corpo de Cristo é valioso e que precisamos uns dos outros.

Ao vivermos esses mandamentos de “uns aos outros”, a comunidade na igreja local se torna um reflexo vibrante do amor e da graça de Deus, um lugar de cura, crescimento e suporte mútuo cristão que nos capacita a perseverar na fé.

Unidade na diversidade: O corpo de Cristo em ação

Uma das maiores belezas e forças da comunidade na igreja local reside na sua unidade na diversidade. O apóstolo Paulo, especialmente em 1 Coríntios 12, usa a poderosa metáfora do corpo de Cristo para ilustrar como pessoas com diferentes dons, origens e personalidades são unidas em um só organismo vivo, funcionando em harmonia sob a direção de Cristo, a Cabeça. Compreender e abraçar essa dinâmica é fundamental para a saúde e a eficácia da comunidade cristã.

Reconhecendo e valorizando os dons diversos

Deus, em Sua sabedoria, não fez todos os membros da igreja iguais. Pelo contrário, Ele distribuiu uma rica variedade de dons espirituais na comunidade “como lhe aprouve” (1 Coríntios 12:11, 18). Paulo lista diversos dons, como sabedoria, conhecimento, fé, cura, milagres, profecia, discernimento de espíritos, línguas e interpretação (1 Coríntios 12:4-11), e outras listas incluem dons como serviço, ensino, exortação, contribuição, liderança e misericórdia (Romanos 12:6-8). Nenhum crente possui todos os dons, e nenhum dom é superior a outro em termos de importância essencial para o corpo. Uma comunidade na igreja local saudável reconhece, celebra e incentiva o desenvolvimento e o uso dessa diversidade de dons, entendendo que cada um é uma manifestação do Espírito para o bem comum.

Como os dons contribuem para o bem comum

A diversidade de dons não é para exibição pessoal ou para criar divisões, mas “visando um fim proveitoso” – a edificação mútua do corpo de Cristo (1 Coríntios 12:7). Cada dom, seja ele mais público ou mais discreto, tem um papel vital a desempenhar na construção da comunidade cristã.

Os dons de ensino instruem, os de serviço atendem às necessidades práticas, os de encorajamento fortalecem, os de liderança guiam, os de misericórdia consolam. Efésios 4:11-13 descreve como Cristo deu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”. Quando cada membro usa seus dons em amor, toda a comunidade na igreja local cresce em maturidade e unidade.

A beleza da unidade em meio a diferenças

A diversidade no corpo de Cristo vai além dos dons espirituais. A igreja local é chamada a ser uma comunidade onde barreiras étnicas, sociais, econômicas e geracionais são superadas pelo poder unificador do Evangelho. “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28). Em Cristo, nossas diferenças não são apagadas, mas redimidas e harmonizadas.

A unidade na diversidade da igreja é um testemunho poderoso para um mundo fragmentado e dividido, demonstrando que o amor de Cristo é capaz de reconciliar e unir pessoas de todas as origens (Colossenses 3:11). Cultivar essa unidade exige humildade, amor, respeito mútuo e um foco constante naquilo que nos une: nossa fé comum em Cristo.

Interdependência: Precisamos uns dos outros

A metáfora do corpo de Cristo também ressalta nossa profunda interdependência. Paulo argumenta veementemente que “o olho não pode dizer à mão: Não preciso de ti! Nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós!” (1 Coríntios 12:21). Pelo contrário, os membros que parecem mais fracos são indispensáveis, e os menos honrosos recebem maior honra (1 Coríntios 12:22-24). Isso significa que ninguém na comunidade na igreja local é autossuficiente. Precisamos desesperadamente uns dos outros. Precisamos dos dons, perspectivas, encorajamento e correção de nossos irmãos e irmãs. Reconhecer nossa interdependência nos livra do orgulho e nos leva a valorizar cada membro da comunidade cristã, promovendo uma cultura de suporte mútuo cristão e colaboração.

Abraçar a unidade na diversidade e a interdependência do corpo de Cristo é essencial para que a comunidade na igreja local funcione como Deus planejou, tornando-se um lugar de crescimento, serviço e testemunho eficaz.

Comunidade como meio de santificação: Afiando uns aos outros

A comunidade na igreja local não é apenas um lugar de conforto e encorajamento, mas também um ambiente crucial para a nossa santificação – o processo contínuo de sermos transformados à imagem de Cristo. Deus usa os relacionamentos na igreja, com todas as suas alegrias e desafios, como um instrumento poderoso para nos moldar, purificar e nos fazer crescer em piedade. Viver em comunidade cristã nos expõe, nos desafia e nos impulsiona para a maturidade espiritual de maneiras que a vida isolada jamais poderia.

Responsabilidade mútua (prestação de contas): companheiro

Um dos aspectos mais importantes da comunidade na igreja local como meio de santificação é a responsabilidade mútua, também conhecida como prestação de contas. Como vimos, somos chamados a exortar uns aos outros diariamente para não sermos endurecidos pelo pecado (Hebreus 3:13) e a restaurar com mansidão aqueles que caem (Gálatas 6:1-2). Isso implica que temos uma responsabilidade uns pelos outros na jornada da fé. Em uma comunidade cristã saudável, criamos relacionamentos de confiança onde podemos compartilhar nossas lutas contra o pecado, pedir oração e receber tanto encorajamento quanto correção amorosa.

Saber que seremos questionados com amor sobre nossas escolhas e nosso andar com Deus nos ajuda a levar nossa santificação mais a sério e a resistir à tentação. A prestação de contas não é um julgamento legalista, mas um cuidado mútuo que visa a restauração e o crescimento.

O “espelho” da comunidade: Revelando pontos cegos

Os relacionamentos na igreja funcionam como um espelho, refletindo áreas de pecado, orgulho, egoísmo ou imaturidade que talvez não enxerguemos em nós mesmos. Interagir com pessoas diferentes, lidar com conflitos, receber feedback (mesmo que não solicitado) e observar as reações dos outros às nossas palavras e ações podem revelar nossos “pontos cegos” espirituais. Provérbios 27:17 diz: “Como o ferro com o ferro se afia, assim o homem afia o rosto do seu amigo”. A fricção inevitável da vida em comunidade, quando abordada com humildade e desejo de crescer, pode nos polir e nos tornar mais semelhantes a Cristo. A comunidade na igreja local nos tira da nossa zona de conforto e nos confronta com a necessidade de mudança.

Estímulo às boas obras: Inspirando a generosidade

A comunidade cristã também nos santifica ao nos estimular às boas obras. Hebreus 10:24 nos instrui a considerar “uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”. Ver outros irmãos e irmãs servindo sacrificialmente, amando os perdidos, perseverando em meio a provações ou usando seus dons para edificar a igreja nos inspira e nos desafia a fazer o mesmo. A comunidade na igreja local cria um ambiente onde a piedade é celebrada, encorajada e modelada, impulsionando-nos a sair da passividade e a nos engajarmos ativamente no serviço a Deus e ao próximo.

Aprendendo a amar pessoas difíceis: O exercício da graça

Sejamos honestos: nem todos na igreja local serão fáceis de amar. Encontraremos pessoas com personalidades diferentes, opiniões divergentes e hábitos que nos irritam. No entanto, é precisamente nesses relacionamentos desafiadores que o fruto do Espírito – amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5:22-23) – é mais testado e desenvolvido. Aprender a amar, perdoar e suportar pessoas difíceis dentro da comunidade cristã é um poderoso exercício de santificação. Obriga-nos a depender da graça de Deus, a morrer para o nosso egoísmo e a estender aos outros a mesma paciência e longanimidade que Deus tem conosco. A comunidade na igreja local é o laboratório onde aprendemos a amar como Cristo nos amou.

Longe de ser um obstáculo, a vida em comunidade na igreja local, com suas complexidades e desafios, é um dos meios mais eficazes que Deus usa para nos conformar à imagem de Seu Filho.

Conclusão: O contexto para viver pela fé

Ao explorarmos as profundezas da koinonia, a beleza dos relacionamentos autênticos, o poder do suporte mútuo, a dinâmica da unidade na diversidade e o papel da comunidade na santificação, uma verdade ressoa com clareza: a comunidade na igreja local não é um mero “extra” opcional na vida cristã. Ela é o contexto vital, o ecossistema divinamente ordenado, onde a fé é vivida, nutrida e expressa em sua plenitude. Longe de ser apenas um encontro semanal, a igreja local é a família de Deus, o corpo de Cristo, um organismo vivo onde pertencemos uns aos outros e somos chamados a crescer juntos.

A comunhão cristã autêntica, marcada pela vulnerabilidade, hospitalidade, comunicação edificante e perdão, transforma indivíduos isolados em membros conectados de uma família espiritual. O suporte mútuo cristão, expresso através dos mandamentos de “uns aos outros”, amar, encorajar, servir, orar, exortar, sustenta-nos nas dificuldades e impulsiona-nos para a frente. A celebração da unidade na diversidade, reconhecendo e utilizando os dons espirituais na comunidade e superando barreiras, demonstra o poder reconciliador do Evangelho. E, finalmente, a própria dinâmica dos relacionamentos na igreja, com suas alegrias e desafios, torna-se um poderoso instrumento nas mãos de Deus para a nossa santificação, afiando-nos e moldando-nos à imagem de Cristo.

Diante dessa realidade transformadora, o desafio para cada um de nós é claro. Você está engajado ativamente na construção e participação da comunidade na sua igreja local? Ou tem se contentado em ser um espectador, mantendo uma distância segura? Talvez o individualismo da cultura ou [barreiras e decepções passadas – link para C4] o tenham levado a se isolar. Encorajamos você a redescobrir o valor insubstituível da comunidade cristã.

Dê passos intencionais para se conectar. Busque relacionamentos autênticos. Ofereça e receba suporte mútuo cristão. Use seus dons. Pratique o perdão. Abrace a jornada, com todas as suas imperfeições, de viver a fé no contexto da família de Deus. Pois é na comunidade que transforma que experimentamos mais plenamente a riqueza da [importância insondável da igreja local] e somos capacitados a viver como discípulos de Jesus no mundo.

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